quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Homens Que Amam de Menos
“As pessoas têm falado muito ultimamente na figura da mulher que se
instala em relações de sofrimento, que, para ter um companheiro, pagam
qualquer preço, e têm extrema dificuldade de romper com tais
relacionamentos. São as chamadas mulheres que amam demais. Para a
existência do comportamento dessas mulheres que parecem amar tanto a
ponto de aceitarem maus-tratos, desprezo e indiferença, é preciso a
presença de outra figura importante para completar a montagem perversa:
“homens que amam de menos”.
O namoro, o casamento, a família e a amizade são instituições nas quais
devemos exercitar a operacionalizar o sentimento do amor. A relação
homem e mulher, além de ser básica, deveria ser a mais prazerosa, já que
inclui, entre outras coisas, o companheirismo, a sexualidade e a
construtividade do futuro. Por que tanta hostilidade, tanto confronto,
tanto sofrimento, tanta humilhação?
Só há uma resposta: a incapacidade de amar.
Essa doença, na forma de dominação e posse, acomete principalmente a
figura masculina enquanto que a forma de desamor mais comum nas mulheres
é a submissão, a dependência, a renúncia, confundida muitas vezes com o
amor. Por isso é que há um grande equívoco em nomear as mulheres que
perderam o autoamor e a dignidade e que se sujeitam à violência
masculina como mulheres que amam demais. Não há nenhum amor aí. Toda
doença emocional é falta de amor.
No homem, a incompetência para lidar com o afeto e a ternura aparece sob
a forma de abuso de poder, de autoritarismo e de certo prazer camuflado
em ver a mulher sofrer. Essa incapacidade amorosa de alguns homens tem
várias razões. A primeira delas remonta à relação que o homem teve na
infância na sua primeira experiência com mulher: com a mãe. Ou foram
muito protegidos pelas mães e não aprenderam que o outro existe com
necessidades afetivas também. Por isso querem receber sempre toda a
atenção da mulher sem nenhuma reciprocidade. E quanto mais a mulher se
anula para atendê-los, mais satisfeitos se sentem. Seu nível de
exigência é sem limite e a mulher à sua volta se sente constantemente em
falta, com culpa, com a incumbência de fazê-los felizes, o que é
impossível por dois motivos: primeiro porque ninguém faz ninguém feliz e
segundo porque eles são insaciáveis.
Ou então não foram amados pelas mães e nem sabem o que é amar. O apego
que as mulheres desenvolvem é acompanhado de uma raiva reprimida à
figura feminina, traduzida nas formas de relacionamento tão denunciadas
pelas mulheres: frieza, críticas, impaciência, irritação, ar de
superioridade e o famoso jogo do desprezo, do abandono e do ciúme. No
fundo, eles maltratam as mulheres por medo da rejeição. Fazem questão de
sentir superiores, tendo sempre razão. As brigas constantes não têm por
objetivo resolver os problemas, mas destruir a figura feminina,
culpando-a pelo fracasso do relacionamento.
“Seu ciúme acabou com nosso relacionamento”, dizia um marido, sem se
perguntar de que maneira ele alimentava o ciúme da mulher, com
indiferenças, ameaças de separação, críticas etc, ou de que maneira
poderiam fazer uma terapia de casal para aprender a amar. Nesse caso, a
própria separação é mais um ato de desprezo e vingança à figura
feminina.
Os homens que amam de menos terão dificuldade em qualquer namoro ou
casamento que venham a ter porque sua incapacidade de amar é o
verdadeiro problema. Conhecemos bem o deficiente físico ou o deficiente
intelectual e não prestamos atenção aos deficientes afetivos. Se para
andar precisamos das pernas e da competência motora, para nos relacionar
bem precisamos da competência amorosa. Há pessoas que não sabem ou não
conseguem amar. Sofrem e produzem sofrimento em quem delas se aproxima
ou com elas convive. O medo do abandono, da rejeição e da traição de
serem magoados coloca os homens que amam de menos numa posição de defesa
com relação a suas parceiras. Em casos extremos, são capazes de agredir
fisicamente a até matar suas mulheres.
Homens que amam de menos e mulheres que amam demais são neuroticamente
complementares. Daí a dificuldade de se separarem. Permanecem durante
anos nesse jogo em que uns sentem prazer em bater e outros em apanhar.
É comum, nesses casais, nos intervalos das cenas de violência, juras de
amor, a prática compulsiva de sexo e o pedido apaixonado de perdão.
Como, porém a causa fundamental é a incapacidade de amar, logo em
seguida recaem na repetição do drama e da dor. O contrário do amor é o
medo. E a louca solução encontrada é destruir o objeto do medo, que
deveria ser o objeto do amor. Maltratar e desprezar a pessoa que se diz
amar. O que salva é que a invalidez amorosa tem cura, não é uma
invalidez permanente. Todo processo terapêutico, todo processo religioso
tem por objetivo nos ensinar a amar.
Quando descobrimos que a única solução para sermos felizes é o amor,
quando percebemos nossa dificuldade de amar, estaremos entrando na senda
da felicidade. Sem amor nos enredamos pela teia da competição e
hostilidade com o outro, gerando em nós e em nossos relacionamentos um
profundo vazio, tédio e depressão.”
Publicada por
Luisa Casimiro
à(s)
quinta-feira, outubro 07, 2010


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